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O transtorno de personalidade

Posted by Cecília on 12:36
Por vezes lidamos com pessoas que agora estão bem e de repente sem qualquer razão aparente (a nosso ver), ficam perturbadas e confusas. Pensamos “esta pessoa deve ser bipolar”, tem humores diferentes num espaço curto de tempo. Podem ser considerados indecisos e "de lua", pois são pessoas que dizem ou fazem uma coisa, mas em seguida mudam de ideia ou opinião drasticamente. E “cobram” dos outros tudo e mais alguma coisa, fazendo-se de vítima à mínima contrariedade.
Na realidade estas pessoas estão doentes. Sofrem de Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), também muito conhecido como Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), este transtorno da personalidade é caracterizado por uma “desregulação” emocional, raciocínio extremista (cisão) e relações caóticas. Pessoas com personalidade limítrofe podem possuir uma série de sintomas psiquiátricos diversos como humor instável e reactivo, problemas com a identidade, assim como sensações de irrealidade e despersonalização.
Personalidade é definida pela totalidade dos traços emocionais e de comportamento de um indivíduo (carácter). Pode-se dizer que é o "jeito" de ser da pessoa, o modo de sentir as emoções ou o "jeito" de agir.
Um transtorno de personalidade aparece quando esses traços são muito inflexíveis e mal-ajustados, ou seja, prejudicam a adaptação do indivíduo às situações que enfrenta. Geralmente esses indivíduos são pouco motivados para tratamento, uma vez que os traços de carácter não geram muito sofrimento para si mesmos, mas perturbam as suas relações com outras pessoas, fazendo com que amigos e familiares aconselhem o tratamento. Geralmente os sintomas aparecem no início da idade adulta e permanecem pela vida toda, caso não sejam tratados.
No entanto não é fácil detectá-los, pois podem “aparentemente”serem adoráveis, educados e simpáticos. Contudo, tais qualidades perdem a força conforme suas relações se tornam íntimas. Muitas vezes, superficialmente, pessoas que não conhecem profundamente o doente podem duvidar e não acreditar quando familiares, por exemplo, relatam o comportamento irritadiço e anormal que o paciente exibe. O ambiente intrafamiliar é muitas vezes marcado por conflitos constantes.
Aqueles que sofrem do transtorno de personalidade são indivíduos que afastam aqueles de quem mais precisam. Paradoxalmente, ao tempo que precisam do afecto e da companhia dessas pessoas, são capazes de afastá-las de forma cruel e, muitas vezes, assustadora. São muito exigentes de atenção e são excessivamente manipuladoras, embora nunca o admitam. Muito imaturos emocionalmente, são impacientes, não sabem esperar, suas recompensas devem ser sempre imediatas, não toleram frustrações e tendem a colocar a culpa sempre em outros pelas suas próprias falhas.
São pessoas com memória muito exacerbada para eventos negativos: não são capazes de perdoar, “remoem” coisas do passado e vivem e revivem intensamente um sofrimento desproporcional aos factos porque apresentam um juízo de valor muito rígido.
Por isso tudo, são pessoas facilmente vingativas, rancorosas, que, em momentos de fúria intensa, podem oscilar entre um comportamento explosivo ou friamente vingativo, passando bruscamente do papel de vítimas injustiçadas para o de verdadeiros vilões cruéis que não medem esforços para cometer acções maldosas em busca de vingança. Interiormente, eles acreditam estar correctos em suas atitudes e não entendem por que as outras pessoas os olham com espanto e indignação após tais comportamentos.
Também são, essencialmente, insaciáveis. Em termos de busca de atenção, eles sempre querem mais do que realmente têm. Por mais que as pessoas lhe dêem atenção, eles estão a exigir muito mais do que recebem.
Inclusive, eles tendem a ser "paranóicos", exigentes e desconfiados sempre de que os outros não lhe dão importância, mesmo que isso não seja a realidade. Eles, sem querer, distorcem-na, e acabam por colocar tudo para o lado "ruim" e ver somente o lado negativo ou das pessoas ou das situações com que se defrontam, acreditando, por exemplo, que as outras pessoas não lhe dão atenção, ou que de repente mudaram de comportamento e por isso são más, merecendo assim, punições e vinganças.
Trata-se de pessoas com instabilidade emocional, ou seja, aquelas que não conseguem manter equilíbrio emocional em situações de tensão ou stress. Elas frequentemente mudam de humor, emoções e conduta conforme o contexto que lhe for apresentado. Via de regra, têm baixa capacidade de julgamento e usualmente têm reacções “grosseiras”, acompanhadas muitas vezes de ansiedade. Podem ser pessoas rebeldes ou totalmente tímidas. Essas pessoas podem confundir carência emocional com paixão. Transferem para relacionamentos amorosos a sua instabilidade emocional. Muitas vezes tornam-se os causadores de brigas excessivas, têm extremo sentimento de posse e profunda carência afectiva. Vêem o outro como se ele tivesse nada menos que a obrigação de estar ali apenas para prover aquilo de que ele necessita. Além disso, elas tendem a acreditar que o outro parceiro tem de estar todo o tempo com ela, e têm a obrigação de não deixá-lo sozinho. Quando o parceiro tem de ir viajar ou quando cancela um encontro, facilmente se enfurecem ou entra em pânico, pois sente-se facilmente rejeitado. A sua capacidade de esconder o transtorno faz com que sejam vistos, superficialmente, como se não tivessem doença alguma.
Pessoas com o transtorno oscilam sempre entre dois extremos: um comportamento adulto e um comportamento infantil; entre a crueldade e a bondade. Esses indivíduos são também árduos manipuladores e estão constantemente a engendrar manipulações, a fim de testar as outras pessoas. Não toleram rejeições sentimentais. Isto quer dizer que qualquer movimento diferente da outra pessoa, significa que o outro não gosta mais dele, que não lhe quer mais, ou que irá abandoná-lo. Uma simples contrariedade partindo da pessoa por qual o doente mantém um vínculo afectivo importante, é visto como um sinal de "não", frustração e abandono, mesmo que isto não seja verdade. Inclusive, costuma "ver coisas" onde, na realidade, não existem.
Sentem tudo com uma alta intensidade, sendo que para eles, tudo faz mal, tudo os “agride”. Não sabem se proteger, ou ao menos, acreditam não saber. Eles têm sentimentos constantes de ser uma eterna "vítima".Esses indivíduos não conseguem mesmo manter um bom relacionamento entre seus familiares íntimos que convivem diariamente com eles (ex.: pais e irmãos). Por vezes, o ambiente é repleto de discórdias sendo que estes últimos também são classificados pelo o doente, ora como bons, ora como maus. Essas pessoas que convivem com o indivíduo percebem tais características, como o humor instável com demonstração de incapacidade de controlar a raiva (ex.: mau humor frequente, mau génio, sarcasmo, amargura, agressividade constante, etc.). Também podem ser tidas como pessoas incapazes de demonstrar gratidão, de interessar-se por si mesmo e pelos outros. Os outros, assim como a pessoa que o criou (ex: mãe, pai), podem ser sentidos por ele como “estranhos” que têm apenas a função de suprir e prover o que ele espera. A convivência diária com estes doentes pode ser de extrema dificuldade.
O perfil geral do transtorno inclui assim uma inconstância invasiva do humor, das relações interpessoais, da conduta (comportamento) e da identidade, que pode levar a períodos de dissociação. São pessoas muito instáveis em todos os aspectos de sua vida; seus relacionamentos íntimos são muito caóticos, com tendência a terminar abruptamente de forma explosiva, pois eles são marcados por períodos de grande idealização e também de grande desvalorização, de esforços exagerados para evitar a perda, de chantagens emocionais e de possessividade.
De forma geral, estão sempre no extremo e fazem análise extrema das situações externas. As suas opiniões em relação aos outros, são assim baseadas também, alternando drasticamente entre pessoas "maravilhosas" e pessoas "terríveis", por isso a frustração é frequente porque o portador do transtorno faz idealizações das pessoas e circunstâncias e estão sempre procurando o "perfeito" e o “ideal”.
Por causa da tendência em completamente idealizar ou completamente desvalorizar pessoas, lugares e objectos, os portadores do transtorno de personalidade por vezes podem fazer um mau julgamento de outras pessoas, fazendo com que se envolvem em relações extremamente prejudiciais, que levam a sucessivas crises emocionais. As suas opiniões e ideias são facilmente instáveis e contraditórias. Podem dizer com convicção "sim", para em seguida, dizer "não".
Estes doentes têm dificuldade em avaliar as consequências de seus actos e de aprender com a experiência e, então, erram e repetem o erro, nunca aprendendo. São indivíduos tão exigentes e imprevisíveis que assim tendem a afastar todos aqueles que os rodeiam. Eles sempre tendem a contornar a situação e colocam a culpa nos outros, seja por suas deficiências, decepções, responsabilidades ou problemas. Outro problema frequente é que têm dificuldade em relação a limites ou regras.
Em relação ao relacionamento familiar, o doente exige demais da sua família que pode, com razão, cansar-se das suas exigências e das suas agressões. Eles estão sempre a reclamar de algo, talvez querendo manter um cuidador perto de si, mas não têm capacidade o suficiente para nutrir uma relação saudável e estável. Para isso, eles são vistos como exímios manipuladores com tendência a manter perto de si a qualquer custo outra pessoa que seja sua "cuidadora". Isso pode ser conseguido de várias maneiras como já citadas, entre elas, ficar doente emocional ou fisicamente é frequente. Primordialmente, mostram-se aparentemente “normais” a fim de conseguir um vínculo. Entretanto, acabam por criar sérias confusões, mas consideram-se sempre as “vítimas injustiçadas”. A possessividade e o ciúme patológico são sintomas muito comuns entre este tipo de pacientes.
Em suma, o transtorno de personalidade é tido como um dos transtornos mentais mais devastadores, sobretudo na área de relacionamentos interpessoais, sendo também dos mais difíceis de ser tratado.
A literatura existente sugere que traços relacionados ao TPL são influenciados por genes e já que a personalidade pode ter características hereditárias, então o TPL também poderia ser, no entanto estudos têm tido problemas metodológicos e as ligações exactas não estão claras ainda. Um estudo maior de gémeos idênticos descobriu que se um deles atingir o critério de TPL, o outro também atinge em um terço (35%) dos casos. Filhos de pais (de ambos o géneros) com TPL têm cinco vezes mais de oportunidades de também desenvolver o Transtorno de Personalidade Limítrofe ou o Transtorno de Personalidade Anti-Social (Sociopatia). Além disso, pais com outros tipos de transtornos psiquiátricos tais como depressão, ansiedade ou transtorno afectivo bipolar podem terem um filho com probabilidade de desenvolver outra doença psiquiátrica, incluindo o transtorno de personalidade.
Não é fácil tratar um doente deste tipo. Pois este não se considera doente e pensa que são os outros que estão “loucos”. No entanto existem muitos tipos específicos de psicoterapia para eles, que foram desenvolvidos nos últimos anos. Os estudos já registados não confirmam a eficácia desses tratamentos, mas pelo menos sugerem que qualquer um deles pode resultar em alguma melhora. Terapias individuais simples podem, por si mesmas, melhorar a auto-estima e mobilizar as forças existentes nestes doentes. Terapias específicas podem envolver sessões durante muitos meses ou, no caso de transtornos de personalidade, muitos anos. Psicoterapias são frequentemente conduzidas com indivíduos ou com grupos. Terapia de grupo pode ajudar a potencializar as habilidades interpessoais e a auto consciência nos afectados pelo TPB, assim como medicação apropriada. Em casos mais graves, o doente deverá ser internado. Caso tenham algum doente na vossa família, não tente controlar o problema sozinhos, trata-se de uma doença e é necessário o diagnóstico de especialista na área. Em alguns casos mais graves, a própria família precisa de apoio psicológico e respectivo tratamento. Pois o portador deste transtorno provoca danos a si mesmo e aos que com ele convivem…
Sites consultados:

http://www.wiquipédia.pt

http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?422

http://portalnippon.com/vida-e-estilo/saude/transtorno-de-personalidade.html

http://www.top30.com.br/news/transtornos-de-personalidade

http://www.kiai.med.br/psiquiatria/transtorno-de-personalidade-borderline-limitrofe-diagnostico-pelo-dsm-iv-e-cid-10-160/

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